Os
empresários brasileiros se vestem bem, comem bem, ganham bem, vivem realmente
em outro mundo. Se tivessem um contato mínimo com a realidade, veriam que o
país tem hoje todas as condições de dar um passo além e ultrapassar de vez a
fronteira que o separa das nações mais ricas do planeta. Em vez disso, porém,
continuam atrelados a velhos hábitos e ideias superadas, reclamando de tudo,
menos de sua notável incompetência e secular ineficiência.
Um grupo
desses nossos "líderes empresariais" se reuniu na noite de
segunda-feira em São Paulo para receber o prêmio Executivo de Valor.
E desta
vez se superaram na análise da conjuntura econômica do pais: segundo relatou o
jornal que patrocinou o evento, "a inflação voltou ao topo das
preocupações dos executivos brasileiros".
A
inflação, justo ela, que mantém neste ano um comportamento exatamente igual ao
dos anos anteriores, está causando uma tremenda dor de cabeça aos nossos
industriais.
Eles devem
estar lendo muito o Estadão, a Veja, a Folha, e obviamente não perdem um
capítulo do Jornal Nacional.
Com tantos
problemas por aí, eles temem justamente a inflação...
Diz a
notícia que "em uma lista de seis problemas imediatos - inflação, câmbio,
mão de obra, inadimplência, custo do crédito e demanda fraca -, o aumento dos
preços recebeu notas de oito a dez para a maioria dos 23 premiados".
E aí
segue-se um rosário de queixas:
"Tudo
o que a indústria tenta ganhar em produtividade para ser mais competitiva perde
na inflação. Essa escalada inflacionária (sic) é uma grande ameaça", diz
Fábio Venturelli, presidente do grupo sucroalcooleiro São Martinho.
"A
inflação reduz a capacidade de compra das pessoas e quem mais sofre são os que
têm os menores salários", diz Márcio Utsch, presidente da
Alpargatas.
A notícia
continua, afirmando que "se a inflação é o principal entrave de curto
prazo ao crescimento, fatores de mais longo prazo também foram apontados":
a qualificação da mão de obra - temor número um em 2012 - ficou em segundo
lugar neste ano, acompanhada de perto pelo câmbio.
Como se
vê, os empresários brasileiros não primam pela originalidade:
"A
receita dos executivos para um Produto Interno Bruto (PIB) mais vigoroso e
sustentável nos próximos anos passa pelo aumento da competitividade. Demanda
fraca e o câmbio valorizado estão entre as maiores inquietações de Harry
Schmelzer, presidente da fabricante de motores elétricos WEG. 'A indústria
passa por um momento difícil, o que pode ser percebido pela perda gradual de
dinamismo e de participação do setor na economia', diz. Para ele, as medidas
adotadas pelo governo - como redução do custo do crédito e desoneração da folha
de pagamento - ajudam a mitigar o problema. Mas a retomada do crescimento
envolve mais investimentos em infraestrutura e logística."
O
presidente da Microsoft, Michel Levy, capricha no lugar comum: "O Brasil
deveria primeiro estimular o investimento privado", afirma, e para isso é
necessário rever a política industrial. "Existe forte movimento para
aquecer a demanda, mas é preciso se preocupar com o incentivo à produção",
diz.
Mas ele
não é o único a explorar o chavão. Carlos Fadigas, presidente da Braskem, é
autor de frase lapidar: "O baixo crescimento nos últimos anos deixou claro
que não se pode prescindir da expansão da indústria."
E por aí
vai o festival de platitudes.
De tudo o
que foi dito, sobra apenas a conclusão inevitável: não é à toa que a indústria
brasileira vive um mau momento.
Com lideranças de tal naipe, é um
milagre que as empresas ainda sobrevivam.
"pescado" no Crônicas do Mota
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