Por Roberto Rodrigues – Ex-Ministro
da Agricultura e grande defensor do cooperativismo.
.............As cooperativas, empresas baseadas em
valores, transcendem a prestação de serviços apenas a seus associados para
servir também às pessoas da localidade onde se encontra
Já há algum tempo a academia
discute a eficiência do PIB como indicador adequado do desenvolvimento, bem
como o uso das médias. A renda per capita brasileira é R$ 668. Mas o
brasiliense tem uma renda de R$ 1.404. O piauiense, de R$ 367. De que vale para
este último a média do país se ele recebe 55% dela?
É o mesmo que dizer que a precipitação
pluviométrica do norte do país é boa. No Amazonas chove por volta de 2500 mm ao
ano. No Ceará, cerca de 800 mm. A média é excelente, mas o Ceará continua seco.
Estudiosos se debruçam sobre
essas questões em busca de um índice equilibrado que associe o progresso ao
bem-estar da população.
Renda alta, claro, ajuda: as
pessoas se alimentam e se vestem bem, tem acesso a boa educação e planos de
saúde, moram bem, têm carro e os aparatos eletrônicos e de comunicação
contemporâneos, tiram férias na praia, vão ao cinema e ao teatro, têm lazer.
Tudo isso torna a vida mais leve e fácil, embora não garanta automaticamente
bem-estar.
Esse só é real -sobretudo
coletivamente- quando existe coesão entre os cidadãos, confiança recíproca,
tranquilidade nas relações humanas, justiça e equidade.
Esses itens compõem o que Amartya
Sen, Prêmio Nobel de Economia (1998) chamou de capital social.
Antes dele, o grau de
desenvolvimento de um país era dado pelo quadrilátero dos capitais: o natural
(terra, água, clima), o físico (bens imóveis e duráveis como construções,
veículos), o financeiro (dinheiro, ações) e o humano (educação, saúde).
Examinando países em que esses
quatro capitais eram distribuídos com harmonia, Sen e seus companheiros
verificaram que em algumas regiões havia mais progresso, pois lá havia maior
capital social.
Talvez seja esse o modo para
medir o bem-estar de um povo, o seu capital social. Não basta o PIB, não basta
o IDH, não bastam os esforços para avaliar a felicidade de uma sociedade.
Bem-estar é a soma de desenvolvimento econômico com o social e todas as variáveis
que interferem com ambos e entre ambos.
Bom, e as cooperativas com isso?
Desde a fundação da primeira
cooperativa, em Rochdale (Inglaterra), em 1844, como resposta à exclusão social
da revolução industrial, o cooperativismo (enquanto doutrina) foi chamado de
terceira via para o desenvolvimento socioeconômico, entre o capitalismo e o
socialismo.
Isso durou até que caiu o muro de
Berlim, em 1989. As profundas mudanças no socialismo e no capitalismo
eliminaram a ideia de terceira via, e por um bom tempo o cooperativismo ficou
perplexo procurando sua nova identidade.
Por isso, em 1995, a Aliança
Cooperativa Internacional (que representa mais de um bilhão de cooperados no
mundo) realizou uma conferência para revisar seus princípios.
Criou um novo princípio, o seu
sétimo: a preocupação com a comunidade. Desde então, as cooperativas, empresas
baseadas em valores, transcendem a prestação de serviços apenas a seus
associados para servir também às pessoas da localidade onde se encontra. O
conceito é claro: não existe uma ilha de bem estar cercada de iniquidade.
Isso mudou a representação
gráfica de cooperativismo. Até a queda do muro, era um rio fluindo entre duas
margens, o socialismo e o capitalismo. Depois, virou uma ponte unindo outras
margens: o mercado, onde as cooperativas devem estar inseridas com eficiência
de gestão, competitivas e focadas, e o bem-estar da coletividade. E isso só
acontece por causa do capital social, matéria prima essencial para o sucesso de
uma cooperativa.
Em outras palavras: cooperativa é
a síntese do capital social, base do bem-estar coletivo
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