A crise em que está mergulhado o ministro Fernando Bezerra Coelho, da Integração Nacional, se agrava com o passar dos dias. Desde a semana passada, quando veio à tona que Bezerra destinou 90% das verbas federais antienchente a Pernambuco, seu estado natal, a lista de desmandos do ministro não para de crescer – e já inclui até nepotismo. Ainda assim, a presidente Dilma Rousseff decidiu blindá-lo. O Planalto avalia que, em ano eleitoral, não é indicado comprar briga com um aliado do porte do PSB, partido de Bezerra. A estratégia governista, elaborada ainda na semana passada, ficou clara na segunda-feira: a presidente ordenou que o ministro fosse o responsável pelo anúncio da criação da Força Nacional de Apoio Técnico de Emergência, grupo interministerial que irá atuar em locais afetados por desastres naturais.
No mesmo dia, o ministro disse estar “tranquilo” no cargo. “Se não contasse com a confiança e apoio da presidente, não estaria nessa solenidade”, afirmou Bezerra, que prossegiu: “Estamos tranquilos, nenhuma dessas denúncias irá prosperar, nunca prosperou uma denúncia em relação a minha pessoa, nunca tive nenhuma conta rejeitada. O Tribunal de Contas aprovou todas as contas.”
Segundo reportagem desta terça-feira do jornal O Estado de S. Paulo, Dilma avaliou que as denúncias contra Bezerra são inconsistentes e orientou o ministro a prestar esclarecimentos públicos. A estratégia conta ainda com um ponto a favor do governo: na quinta-feira, quando falará ao Congresso, Bezerra deve encontrar um clima amigável, uma vez que a comissão representativa que atua “de plantão” durante o recesso parlamentar é de maioria governista. Como Dilma já orientou os aliados a saírem em defesa do ministro enrolado, Bezerra não deve encontrar problemas no Congresso.
A blindagem federal, porém, não consegue barrar o surgimento de novas denúncias contra Bezerra. Nesta terça-feira, o jornal O Estado de S. Paulo informa que, em outubro do ano passado, o ministro nomeou o tio, o ex-deputado federal Osvaldo Coelho (DEM), membro do comitê técnico-consultivo para o desenvolvimento da agricultura irrigada, criado dias antes pela pasta. Agora, já são dois os parentes do titular da Integração empregados no governo: Bezerra também nomeou o irmão, Clementino, presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf).
A situação de Bezerra começou a se complicar na semana passada, quando se descobriu o uso político de verbas de prevenção a enchentes. Embora não esteja na lista de regiões com maior risco de inundações, o estado de Pernambuco, berço eleitoral do ministro, recebeu 90% da verba antienchente da pasta. No final de semana, revelou-se que ele utilizou verba pública para projetar o filho, deputado Fernando Coelho Filho (PSB), em Petrolina, cidade onde o parlamentar deseja eleger-se prefeito neste ano. Nesta segunda-feira, o jornal Folha de S. Paulo informou que o ministro comprou por duas vezes o mesmo terreno quando era prefeito de Petrolina – utilizando-se, é claro, de verba pública.
Mas Bezerra conta com um padrinho forte: o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Em meio à crise, Campos, que acumula o cargo de presidente do PSB, comandou a ação de blindagem. O método: dividir com Dilma a responsabilidade – e o desgaste político – pela distribuição dos recursos. Depois de passar por desentendimentos com aliados em 2011, com a queda de ministros do PMDB, do PR, do PDT e do PCdoB, Dilma não quer comprar briga com o PSB. Precisa do apoio do partido para as votações no Congresso Nacional e não pode perder de vista as alianças para as eleições deste ano
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