segunda-feira, 19 de março de 2012

Capinzal do Norte: região central do Maranhão vive o sonho do "Novo Eldorado”

Uma grande expectativa de desenvolvimento, negócios, emprego e renda, toma conta do Maranhão Central com a exploração de Gás em Capinzal do Norte e Santo Antonio dos Lopes, municípios que na linguagem local estão “bombando”.
Tudo começou em dezembro de 2009, quando a OGX iniciou as pesquisas sísmicas no subsolo de parte dos oito blocos exploratórios dos quais detém concessão. De 2010 até agora, perfurou 10 poços na região com duas sondas de perfuração (QG-1 e BCH-5). Em breve, segundo informes da empresa contará com uma terceira sonda em operação.

Já este ano, com a aprovação da Aneel, a MPX, empresa do grupo OGX, iniciou construção das usinas termelétricas no chamado “complexo do Parnaíba”, em Santo Antônio dos Lopes. Os dois projetos possuem capacidade de total de 680 MW e devem entrar em operação até janeiro de 2013.

Os investimentos, segundo a secretaria de Indústria e Comércio do Maranhão, somam R$ 980 milhões com previsão de gerar 1.000 empregos diretos. "Este é mais um empreendimento de geração de energia e que coloca o Maranhão numa condição privilegiada entre os produtores nacionais. É um projeto muito importante e confirma as nossas previsões de que o nosso estado será um grande produtor de energia", observou o secretário Maurício Macedo.
De acordo com a OGX, as usinas detêm contratos de 15 anos de duração para 450 MW médios, garantindo uma receita fixa anual de R$ 393,5 milhões. A MPX tem 70% do complexo, enquanto a Petra Energia é sócia com 30%.

Segundo o próprio site da OGX, o presidente da MPX, Eduardo Karrer, destacou que a construção das usinas em Santo Antônio dos Lopes será importante para garantir a oferta de energia elétrica para o Brasil. A empresa já possui o total de 3.722 MW já licenciados. O gás natural utilizado pelas usinas será fornecido pelos blocos terrestres localizados na região, com recursos estimados em mais de 11 trilhões de pés cúbicos, dos quais a MPX possui 23% de participação. A operação dos blocos será realizada pela OGX Maranhão.

Nossa reportagem esteve em Capinzal do Norte e Santo Antonio dos Lopes, para ver de perto o empreendimento e ouvir representantes das empresas envolvidas, autoridades, lideranças políticas e populares sobre essa euforia econômica que toma conta da região, os prós e os contras, o que existe de real em tudo isso.

OGX e MPX, uma caixa de segredos?

Tentamos visitar os Blocos da MPX e canteiro de obras de uma das termoelétricas, mas nosso acesso não foi liberado, apesar de várias tentativas. Via rádio o pessoal da segurança conversou com dirigentes da OGX (ou MPX?) e ficou combinado que o pessoal da área de comunicação entraria em contacto com nossa reportagem para uma posterior entrevista com alguém indicado para falar, possivelmente o senhor Roberto Rick, o que até o fechamento desta edição não aconteceu.

Em Capinzal

Como é de praxe, nas cidades da região, não encontramos o prefeito. Tanto o prefeito como a maioria dos líderes políticos estão sempre em São Luís e só visitam o município em raras ocasiões.
Com sorte, encontramos o presidente da Câmara, vereador Neto Alencar, que gentilmente nos recebeu e falou sobre o que pensa a respeito do momento econômico por que passa sua cidade.

Sem deixar de reconhecer que a situação econômica da região tem melhorado muito, Neto disse que existe certo exagero em relação aos números divulgados na área do emprego de mão de obra local e que Capinzal poderia estar ganhando muito mais com a exploração do gás. Queixou-se, por exemplo, que há certo favorecimento ao município vizinho, Santo Antonio dos Lopes, segundo ele por ingerência política do ex-prefeito Mousinho.

“Tudo em primeiro lugar é para Santo Antonio, inclusive os empregos. A maioria do pessoal que trabalha ai é de Santo Antonio”, disse Neto.

A opinião de Neto Alencar não é partilhada pelo assessor da secretaria de obras do município, Nilson Mauro Assunção, que de maneira bastante efusiva engrandeceu o empreendimento como a redenção econômica de Capinzal e região.

“Moço, não poderia ter acontecido coisa melhor. Aqui a renda das pessoas melhorou muito. Tem gente trocando de carro todo ano, alugando casas, carros, vendendo alimentação e ganhando seu dinheiro, graças a esse negócio ai do Gás”, disse Nilson acrescentando que logo o município vai também receber impostos e royalties, recursos que serão aplicados em infraestrutura, saneamento básico e outras benfeitorias para a população.

Segundo Nilson, a afirmativa de que a maioria das pessoas que trabalham no empreendimento são de fora, não é verdadeira.

 “Para se ter uma idéia, 40% da mão de obra braçal de uma das empresas, a Geo-radar, é de Capinzal. São muitos pais de famílias que estavam desempregados e agora estão ganhando o pão de seus filhos, isso com salário digno em torno de mil reais e direitos trabalhistas assegurados”, garantiu Nilson, informando que na cidade ntes do empreendimento existia apenas uma loja de eletrodomésticos e hoje tem quatro, todas prosperando “a olhos vistos”, assim como em outros ramos de negócios.
Extremamente comedido Júlio Manoel Galeno, o “Manoelzinho”, da Pastoral Social da Igreja Católica, tem opinião diferente e diz que vê com desconfiança o projeto que em sua opinião pode muito bem ser igual a tantos que já vieram para o Maranhão e ao final só beneficiaram os grandes grupos, ficando a população nativa na mesma situação, sem emprego e renda, tendo aproveitado muito pouco do que o empreendimento gerou.

“O que eu me pergunto é quando isso passar, o que o futuro nos reserva, o que está sendo feito para que após a conclusão disso ai as pessoas possam sobreviver. Me parece muito fantasioso tudo isso”, diz em tom duvidoso, sendo interrompido a todo instante pelo seu antecessor na entrevista, Nilson Mauro, quase brigando  por causa da opinião do conterrâneo.

Tivemos que intervir, para que pudéssemos ouvir a finalização do pensamento de Manoelzinho. O interessante é que os dois vieram ao encontro da nossa reportagem que não conseguiu sair da cidade sem que muitos curiosos se aproximassem para saber o que estávamos fazendo ali.
Outra liderança ouvida por nossa reportagem, o comerciante Roberto Brito também é um dos que comemoram esse novo momento por que passa Capinzal, mas bastante consciente, não deixa de fazer alguns questionamentos.

       
“Não resta dúvida que a economia local foi aquecida, empregos foram gerados, mas a mudança ainda é muito pequena. Esperamos que com o início da exploração do gás, com a entrada dos royalties no município, esse desenvolvimento chegue até a nossa população”, diz Roberto, pontuando que é preciso que a administração municipal ande no mesmo compasso dessas mudanças, pois segundo ele não se viu isso até agora.
Finalmente quem melhor sintetizou esse novo momento de Capinzal e região para a nossa reportagem foi a estudante de Direito, Lílian Gouveia, classificando-o como uma expectativa de futuro melhor, notadamente com a geração de emprego e renda, mas denuncia que a política ou politicagem tem atrapalhado o acesso de pessoas mais qualificadas a esses empregos.

“Capinzal visto de fora tem sido mais admirado e cobiçado do que os capinzalenses. Isso ocorre infelizmente por que algumas pessoas usam a política como interesse próprio e vicia a população, para que eles fiquem dependentes de um sistema assistencialista. E isso atrapalha o direito de quem tem capacidade de exercer algumas funções dentro das novas empresas e acaba não incentivando a população local a se especializar estudar para se aperfeiçoar”.

Segundo Lílian, no momento, os primeiros empregos que começam a beneficiar a população foram os de motoristas, técnicos de enfermagem e os demais serviços braçais.

“O que nos entristece e que algumas dessas vagas de emprego acabaram tendo uma indicação política, deixando de fora muitas pessoas que realmente teria a capacidade e necessitavam de verdade. Falta um compromisso do gestor do município em elaborar e executar uma política, que incentive e capacite os jovens para os desafios futuros e assim não permitir que pessoas de fora tirem o direito e o privilégio dos que residem aqui ficando com as melhores funções”, disse Lílian, lembrando ainda que a administração municipal não está preparando a cidade para outro fenômeno que está se dando no momento,  o crescimento populacional ou demográfico (Matéria deste Jornalista publicada com exclusividade no Jornal Folha do Maranhão Central, edição de 17/03/2012. A publicação da mesma é permitida , desde que seja devidamente dado o crédito ao autor).

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