A cada momento uma cena da nossa vida cotidiana me chama atenção. É a minha memória fotográfica processando os acontecimentos.
Quando da nossa estada em Canindé-CE, dias 3 e 4 de agosto/12, fomos apresentados a uma cena bucólica, encenada por dois personagens peculiares: um jumento e uma cadela.
O Jumento e a Cadela no leito seco do Rio Canindé,
em Canindé-CE
O jumento é deficiente físico, sua patinha dianteira do lado direito está totalmente quebrada, inclusive com os ossos já calcificados. Quanto à cadela, esta simplesmente acompanha seu “amigo jumento” quase que 24 horas por dia. O jumentinho se arrasta até às margens do Rio Canindé para tomar água e pastar, enquanto a cadela fica ao seu lado, protegendo-o.
Não é tão comum a “amizade” no reino animal de espécies tão diferentes, mas o que se vê (alí no leito seco do Rio Canindé) é um verdadeiro exemplo de solidariedade e de cuidado com o próximo.
A cadela, por ser irracional, não foi fazer questionamentos do tipo “Devo ajuda-lo? Afinal, ele não é da minha espécie”. Ela foi impulsionada por um sentimento que nós, chamados seres racionais, não sabemos explicar. Se eles são irracionais e nós os racionais, por que somos nós os que abandonamos os idosos nos abrigos ou vivemos como parasitas às custas de sua mísera aposentadoria, quando temos saúde para trabalhar? Por que somos nós que jogamos crianças recém-nascidas no lixo quando devíamos protegê-las? Se eles são irracionais, porque matam pelo instinto de conservação própria (ciclo da sobrevivência animal), ou seja, para alimentar-se ou quando se sentem ameaçados; por que nós, os “racionais”, matamos por inveja, por posse, por ganância ou simplesmente por prazer?
Nós, os chamados “racionais”, ainda temos uma atitude muito covarde diante de todo o mal existente no mundo: a “omissão”. Vemos o erro e não fazemos nada, ou simplesmente nos fingimos de cego. A nossa atitude é de egoísmo, pois partindo da premissa de que não é conosco, nem com alguém da nossa família, não nos interessa. Nós humanos, por acharmos que os animais são “coisas” e não criaturas de Deus, apropriamo-nos deles, exploramo-los e, quando eles mais precisam de nós, abandonamo-los. Basta olharmos as ruas das nossas cidades, que têm muitos cães, gatos e assemelhados abandonados por estarem doentes. E muitas vezes por apenas descartes, simplesmente.
-“precisamos ter muito cuidado com os ensinamentos que repassamos para os nossos filhos. Será que quando os mandamos jogar filhotes de animais abandonando-os à própria sorte ou surramos animais na frente deles (nossos filhos) não estamos ensinando-os a não respeitarem a vida e a ter temperamento violento? Será que, também, não estamos ensinando-os a não serem responsáveis por seus atos quando nos livramos dos filhotes que, na realidade, foram frutos de nossa irresponsabilidade, já que por +/- R$ 3,00 (três reais) podemos aplicar uma injeção nas fêmeas para que elas não fiquem prenhas?”.
A cena do jumentinho nos traz um grande questionamento, será que ele foi abandonado porque estava doente. Essa história nos traz um grande aprendizado: podemos aprender com os animais. Aliás, podemos aprender a ter sentimento de amizade sincera, de solidariedade, de cuidado e de amor para com todas as criaturas de Deus.
Assim, vamos mudar nossa atitude diante dessas criaturas tão indefesas; elas são iguais a todos nós, elas sentem fome, medo, angústia, ansiedade, frio e, acima de tudo, dor; e por sentir, assim como nós sentimos, vamos protegê-los; buscando (sempre) continuarmos sendo criaturas de Deus.
Apresentação da Cena: Lília S. Costa (Canindé – CE)
Textualização da História: Raymundo José (Coelho Neto – MA)
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