terça-feira, 7 de maio de 2013

Indústria de chavões



Os empresários brasileiros se vestem bem, comem bem, ganham bem, vivem realmente em outro mundo. Se tivessem um contato mínimo com a realidade, veriam que o país tem hoje todas as condições de dar um passo além e ultrapassar de vez a fronteira que o separa das nações mais ricas do planeta. Em vez disso, porém, continuam atrelados a velhos hábitos e ideias superadas, reclamando de tudo, menos de sua notável incompetência e secular ineficiência.
Um grupo desses nossos "líderes empresariais" se reuniu na noite de segunda-feira em São Paulo para receber o prêmio Executivo de Valor. 
E desta vez se superaram na análise da conjuntura econômica do pais: segundo relatou o jornal que patrocinou o evento, "a inflação voltou ao topo das preocupações dos executivos brasileiros". 
 
A inflação, justo ela, que mantém neste ano um comportamento exatamente igual ao dos anos anteriores, está causando uma tremenda dor de cabeça aos nossos industriais. 
Eles devem estar lendo muito o Estadão, a Veja, a Folha, e obviamente não perdem um capítulo do Jornal Nacional.
Com tantos problemas por aí, eles temem justamente a inflação...
Diz a notícia que "em uma lista de seis problemas imediatos - inflação, câmbio, mão de obra, inadimplência, custo do crédito e demanda fraca -, o aumento dos preços recebeu notas de oito a dez para a maioria dos 23 premiados".
E aí segue-se um rosário de queixas: 
"Tudo o que a indústria tenta ganhar em produtividade para ser mais competitiva perde na inflação. Essa escalada inflacionária (sic) é uma grande ameaça", diz Fábio Venturelli, presidente do grupo sucroalcooleiro São Martinho. 
"A inflação reduz a capacidade de compra das pessoas e quem mais sofre são os que têm os menores salários", diz Márcio Utsch, presidente da Alpargatas. 
A notícia continua, afirmando que "se a inflação é o principal entrave de curto prazo ao crescimento, fatores de mais longo prazo também foram apontados": a qualificação da mão de obra - temor número um em 2012 - ficou em segundo lugar neste ano, acompanhada de perto pelo câmbio. 
Como se vê, os empresários brasileiros não primam pela originalidade:
"A receita dos executivos para um Produto Interno Bruto (PIB) mais vigoroso e sustentável nos próximos anos passa pelo aumento da competitividade. Demanda fraca e o câmbio valorizado estão entre as maiores inquietações de Harry Schmelzer, presidente da fabricante de motores elétricos WEG. 'A indústria passa por um momento difícil, o que pode ser percebido pela perda gradual de dinamismo e de participação do setor na economia', diz. Para ele, as medidas adotadas pelo governo - como redução do custo do crédito e desoneração da folha de pagamento - ajudam a mitigar o problema. Mas a retomada do crescimento envolve mais investimentos em infraestrutura e logística." 
O presidente da Microsoft, Michel Levy, capricha no lugar comum: "O Brasil deveria primeiro estimular o investimento privado", afirma, e para isso é necessário rever a política industrial. "Existe forte movimento para aquecer a demanda, mas é preciso se preocupar com o incentivo à produção", diz. 
Mas ele não é o único a explorar o chavão. Carlos Fadigas, presidente da Braskem, é autor de frase lapidar: "O baixo crescimento nos últimos anos deixou claro que não se pode prescindir da expansão da indústria."
E por aí vai o festival de platitudes.
De tudo o que foi dito, sobra apenas a conclusão inevitável: não é à toa que a indústria brasileira vive um mau momento. 
Com lideranças de tal naipe, é um milagre que as empresas ainda sobrevivam.

"pescado" no Crônicas do Mota

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